CANÇÃO DA TARDE NO CAMPO
Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.
Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.
Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!
Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha.
Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo,
minha alma é a sombra da tua.
Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.
De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte,
Eu ando sozinha
ao longo da noite,
Mas a estrela é minha
Cecília Meirelles
Ouvir Estrelas
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Thiago de Mello
Romildo Ernesto de leitão Mendes
Ser como sou,
carisma!...
Alegre ou triste,
eterno fingidor!
Se amante, aparentemente,
desligado.
Quando odeio
sutil gozador!
Ser como sou,
dilema!
Poeta, pintor,
profeta ou criatura?
Que importa?!
Sou tudo
alegria,
ternura,
você.
Se sonho com você,
O sussurro do alvorecer
Saudade de Manuel Bandeira
de bom aspecto, sadio
como os rapazes do esporte.
Hoje sou lívido e esguio.
Quem me vê pensa na morte.
O meu mal é um mal antigo.
Aos dezoito anos de idade
começou a andar comigo
E esta sensibilidade
põe minha vida em perigo!
Já sofri a dor secreta
de não ser ágil e vivo.
Mas, enfim, eu sou poeta.
Tenho nervos de emotivo
e não músculos de atleta.
As truculências da luta!
Pra estas mãos não existe
o encanto da fôrça bruta.
... Nada como um verso triste
_ verso, lágrima impoluta...
(O bem que há num verso triste!)
Ele acredita que o chão é duro
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Federico Garcia Lorca
“No mar/ tormentoso/ do Chile/ vive o rosado congro,/ gigante enguia/ de nevada carne./ E nas panelas/ chilenas,/ na costa,/ nasceu o caldo/ grávido e suculento,/ proveitoso./ [...] Enquanto/ se cozem/ com o vapor/ os régios/ camarões marinhos/ e quando já chegaram/ a seu ponto,/ quando coalhou o sabor/ em um caldo/ formado pelo suco/ do oceano/ e pela água clara/ que desprendeu a luz da cebola,/ então/ que entre o congro/ e se mergulhe na glória,/ que na panela/ se azeite,/ se contraia e se impregne./ Já só é necessário/ deixar no manjar/ cair o creme/ como uma rosa espessa,/ e ao fogo/ lentamente/ entregar o tesouro/ até que no caldo/ se esquentem/ as essências do Chile,/ e à mesa/ cheguem recém-casados/ os sabores/ do mar e da terra/ para que nesse prato/ conheças o céu.”
Ouvir Estrelas
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac
ESTATUTO DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)
(Ato Institucional Permanente)
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Thiago de Mello
Um Sussurro pra Daniel
O sol prorrompe
em raios luminosos,
dourando o horizonte,
ainda sombreado,
pelos derradeiros vestígios
de uma noite agonizante.
Lá longe,
um belo campo de girassóis balouçantes
ao sopro do forte vento matinal,
que zunia por entre frestas
e ramarias do arvoredo.
Já despertas, as borboletas multicoloridas
tresvariam às margens do riacho displicente,
que percorre, agilmente, seu curso.
Suas águas Iímpidas
borbulham como lágrimas
de criança contrariada.
Agachando-me suavemente,
prossegui espetando às ocultas,
o vôo bólido e balanceado das andorinhas
que trissando,
coreografavam cenas ligeiras e sincronizadas,
como se elaboradas fossem,
por bailarinas aladas.
Extasiado,
cerro as pálpebras cansadas.
Deixo-me evadir no riacho da ternura
e ancoro no teu regaço acolhedor
de zeloso companheiro,
que me inspira versos,
pela vida inteira.
ENIGMA
Ser como sou,
carisma!...
Alegre ou triste,
eterno fingidor!
Se amante, aparentemente,
desligado.
Quando odeio
sutil gozador!
Ser como sou,
dilema!
Poeta, pintor,
profeta ou criatura?
Que importa?!
Sou tudo
alegria,
ternura,
você.
São Paulo 18 de abril de 1986
Romildo Ernesto de Leitão MendesConfronto
Eu sei dizer.
É bom que diga.
Mas não querem ouvir.
Não querem crescer.
Não querem pensar.
Não querem ser.
Por que iniciar uma cavalgada por onde já trilhei?
Não seria mais fácil,
partir de onde me encontro,
para o infinito desconhecido?
Eu sei dizer.
E por isso lhes digo:
o início é sempre agora;
o futuro é o presente seguinte.
A tristeza duradora- apenas instante.
A alegria eterna- semente da saudade.
Porque apressar o que vem?
Porque antecipar o ainda feto?
Bom é caminhar e caminhando seguir
para chegar,
para usufruir,
para viver,
para ser,
para não morrer.
Montes Claros , 18 de dezembro de 1981
Romildo E L Mendes
Complementação
Quando até as coisas simples
perderam o sabor,
você entrou em minha vida,
impregnando-me de alegria.
Aí, percebi que éramos um.
São Paulo 18-10-1984
Romildo E L Mendes
Apenas
Há um século não nos vemos.
E sábado passado, repousava no meu regaço!
Tudo era carinho.
Nenhuma promessa.
“Te vejo amanhã.”
“Não! Voltarei no fim da semana.”
Últimas palavras que o sol testemunhou.
Vem!
Deixa-me respirar a tua presença,
apenas.
São Paulo 22-03-1984
Romildo E L Mendes
Meu Recanto
Casa limpa.
Casa límpida.
Casa saneada;
não mais notícias más;
não mais egoísmo;
total ausência de mentiras.
Discreta,
já não fere a decência.
Transbordante de paz.
Repleta de serenidade.
Agora, porta que acolhe;
local que ouve:
seta que aponta caminhos.
Romildo Ernesto de Leitão Mendes
Montes claros 17-09-2007
Esperança
Ah! Lembranças cavalgam nas asas da saudade.
O que será que buscam ou procura?
Rasteiam momentos de amor de noites passadas?
Vasculham tristes momentos de ausência constante?
Ah! Sem duvida!
Cada partida é a plastificação da solidão-vazia.
A expectativa do retorno preenche de esperança
o momento do reencontro.
Montes Claros 21-09-2007
Romildo E L Mendes
Regressão
No crepúsculo da vida,
busco fantasmas da infância,
no baú das recordações.
Neste forçar, retorno à meninice
e defronto-me com o portão do fundo do quintal.
Se abro o velho portão,
deparo-me com o rio Jaguaribe!
Ora, exuberante, se no chuvoso inverno nordestino.
Ora, evaporado e ressequido,
ostentando o leito arenoso,
durante a estiagem longa.
Se abrem o tal portão,
estanco perplexo e frágil !
Há, sempre possibilidade de devassidão,
segundo a fantasia pueril.
Portão de fugas ingênuas e outras escapadelas...
Portão, portal surrupiador de sonhos ternos de crianças.
Ainda hoje, o velho portão me apavora,
me enternece,
me entristece.
Montes Claros 29-04-2009
Romildo E L Mendes
Imprudência
Amei, só!
A saudade produz solidão doida.
Amei só!
Dolorosa amargura,
resultante da gostosa imprudência.
Imprudência de se dar sem ser querido,
sem ser amado,
sem ser compreendido.
Montes Claros 11-06-2006
Romildo E L Mendes
Delírio
Se sonho com você,
realizo-me
proclamando sua existência.
Se, ao recordar-me de você,
perco-me em divagações e delirando esboço
uma diáfana silhueta oposta a sua...
Você se esvai.
Flutuo e dissolvemo-nos.
Resta o nada.
Montes Claros 13-06-2006
Romildo E L Mendes
Romildo E L Mendes
O Menino e o Corredor
No fluxo e refluxo da maré
de amargas recordações da infância,
sempre defronto-me
com dois longos corredores.
No corredor do abrigo no interior,
deslizava-me perplexo,
entre a sala de visitas e o fundo do quintal,
até a exaustão física e mental.
Corria, gritava,
meneava a cabeça de um lado para o outro,
tentando estancar
o suspiro ávido dos amantes!
No corredor da capital,
permanecia estático,
inerte e estupefato.
A porta entreaberta
enfraquecia a inocência
e estilhaçava a perspectiva de pureza.
Fugir, sem pestanejar,
era o desejo imediato.
Anelo impossível!
Obstáculos intransponíveis:
à direita um coati selvagem;
à esquerda uma janela no terceiro andar.
Quero evadir-me, não posso!
Nenhum ‘bando de pássaros selvagens passou por ali”.
Embora, minha rosa fosse falsa,
eu não era o “Pequeno Príncipe”.
Montes Claros 02-05-2009
ROMILDO ERNESTO DE LEITÃO MENDES
Lucidez Poética
Ao envelhecer,
meu rosto perdeu o viço da juventude.
Já não posso trapacear a idade
Minha idade é facilmente notada
na face marcada pela ancianidade.
Ah! Mas, a intensidade dos sonhos
é a mesma, já desgustada
pelo "porongo" de outrora.
Sonhos tressuados de devaneios,
tresvariados de doces fantasias transitórias.
As rugas adquiridas,
nesses setenta (70) anos percorridos.
atingiram a epiderme e
plissaram, profundamente,
minha individualidade metafísica.
Não entrelacei fios
de vínculos familiares.
Rejeitei a necessidade irrefutável
de silenciar segredinhos
de qualquer núcleo social.
Denunciei falcatruas testemunhadas.
Não camuflei defeitos pessoais.
Ah! Vivi intensamente
uma diversidade de emoções.
Moc 13-03-2011
ROMILDO ERNESTO DE LEITÃO MENDES
Ouvindo o Alvorecer
O sussurro do alvorecer
se faz poeticamente escutar,
ao pressentir os raios de sol,
que ameaçando rasgar o firmamento,
irão apagar as estrelas,
candelabros à noite acesos,
para pontilhar de luz a escuridão noturna
que o peregrino extasiado
insiste em contemplar.
Prorrompe o sussurro do alvorecer,
impondo o limiar de um novo dia,
anunciado pelo orquestrar de vozes animais,
no ar eclodindo.
Soa o cacarejar, paulatino e impertinente, do galo.
Multiplica-se o pipilar de pardais irrequietos.
Zune compassado o chilrear de periquitos
esvoaçando sincronizados no horizonte sem fim.
Intensificam-se o guinchar dos suínos famintos
e o mugir melancólico dos bovídeos.
Cessa, de imediato, o coaxar dos sapos,
que resilientes se ocultam
no sombreado de grossas folhas sobrepostas
nas hastes das multicoloridas bromélias,
transbordantes de sereno recolhido.
Ao clarear o horizonte infinito,
o sol abusado forçou partir saudosa a noite,
que fugindo, abandonou nas pontas do verde capim,
minúsculas gotas brilhantes de orvalho.
Talvez, lágrimas transparentes de sereno,
rastros delicados de quem forçada,
de súbito, teve que se retirar,
mesmo sem desejar ir.
Já agora, instalado o dia,
debruço-me nas asas da imaginação,
deixando-me palmilhar trilhas iluminadas
por entre touceiras de girassóis dourados e dourantes,
que balouçam desconjuntados
ao soçobrar da frígida brisa matinal.
15-09-2011
ROMILDO ERNESTO DE LEITÃO MENDES
ROMILDO ERNESTO DE LEITÃO MENDES
Saudade de Manuel Bandeira
Não foste apenas um segredo
De poesia e de emoção
Foste uma estrela em meu degredo
Poeta, pai! áspero irmão.
Não me abraçaste só no peito
Puseste a mão na minha mão
Eu, pequenino – tu, eleito
Poeta! pai, áspero irmão.
Lúcido, alto e ascético amigo
De triste e claro coração
Que sonhas tanto a sós contigo
Poeta, pai, áspero irmão?
De poesia e de emoção
Foste uma estrela em meu degredo
Poeta, pai! áspero irmão.
Não me abraçaste só no peito
Puseste a mão na minha mão
Eu, pequenino – tu, eleito
Poeta! pai, áspero irmão.
Lúcido, alto e ascético amigo
De triste e claro coração
Que sonhas tanto a sós contigo
Poeta, pai, áspero irmão?
Vinicius de Moraes
ELEGIA
Que quer o vento?
A cada instante
Êste lamento
Passa na porta
Dizendo: abre...
A cada instante
Êste lamento
Passa na porta
Dizendo: abre...
Vento que assuta
Nas horas frias
Na noite feia,
Vindo de longe,
Das êrmas praias
Nas horas frias
Na noite feia,
Vindo de longe,
Das êrmas praias
Andam de ronda
Nesse violento
Longo queixume,
As invisíveis
Bôcas dos mortos.
Nesse violento
Longo queixume,
As invisíveis
Bôcas dos mortos.
Também um dia,
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.
Virei no vento
Da primavera.
Em tua bôca
Cheio de flôres
Serei carícias,
Que estão lá fora
Na noite quente.
Da primavera.
Em tua bôca
Cheio de flôres
Serei carícias,
Que estão lá fora
Na noite quente.
Virei no vento...
Direi: acorda...
Direi: acorda...
Ribeiro Colto
CANÇÃO DE MANUEL BANDEIRA
Já fui sacudido, forte,de bom aspecto, sadio
como os rapazes do esporte.
Hoje sou lívido e esguio.
Quem me vê pensa na morte.
O meu mal é um mal antigo.
Aos dezoito anos de idade
começou a andar comigo
E esta sensibilidade
põe minha vida em perigo!
Já sofri a dor secreta
de não ser ágil e vivo.
Mas, enfim, eu sou poeta.
Tenho nervos de emotivo
e não músculos de atleta.
As truculências da luta!
Pra estas mãos não existe
o encanto da fôrça bruta.
... Nada como um verso triste
_ verso, lágrima impoluta...
(O bem que há num verso triste!)
Ribeiro Colto
“No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E no planeta um jardim,
e no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.”
equilibra-se um planeta.
E no planeta um jardim,
e no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.”
Cecíllia Meireles
O utopista
Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.
Murilo Mendes
Poema Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecilia Meireles
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
Embora o meu amor seja velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
Nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem
Sem fatalidade o olhar extático da aurora.
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem
Sem fatalidade o olhar extático da aurora.
Vinícius de Moraes
Imagem
Uma coisa branca,Eis o meu desejo.
Uma coisa brancaDe carne, de luz,
Talvez uma pedra,talvez uma testa,
Uma coisa branca.Doce e profunda,
Nesta noite funda,Fria e sem Deus.
Uma coisa branca,Eis o meu desejo,
Que eu quero beijar,Que eu quero abraçar,
Uma coisa brancaPara me encostar
E afundar o rosto.Talvez um seio,
Talvez um ventre,Talvez um braço,
Onde repousar.Eis o meu desejo,
Uma coisa brancaBem junto de mim,
Para me sumir,Para me esquecer,
Nesta noite funda,Fria e sem Deus.
Dante Milano
Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
O ECO
''Ama, quieto e em silêncio.É tão medroso o amor, que um gesto o esfria e a voz o gela."
"Perguntei à minha vida:
Como achar a apetecida
felicidade absoluta?
E um eco me disse: - Luta!
Lutei. - Como hei de a esta penadar cadência serena
que suaviza, embala e encanta?
O eco, então, me disse: -Canta!
Cantei. - Mas, como, num verso,resumir todo o universoque em mim vibra, esplende e clama?Então o eco me disse:- Ama
Amei. - Como achar agoraa alma simples que eu pus forapelo prazer de buscá-la?O eco, então, me disse:- Cala!
Calei-me. E ele, então, calou-se.Nunca a vida foi tão doce...Tudo é mais lindo a meu lado:Mais lindo, porque calado."
Guilherme de Almeida
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
"Perguntei à minha vida:
Como achar a apetecida
felicidade absoluta?
E um eco me disse:
que suaviza, embala e encanta?
O eco, então, me disse:
Guilherme de Almeida
Verde que te quero verde
Federico Garcia Lorca
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.
Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.
Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.
Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.
Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!
Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.
Poesias de Carlos Drummond de Andrade
Quero me casar
“Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.
Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.
Depressa, que o amor
não pode esperar!”
(por Carlos Drummond de Andrade)
Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade
“Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.
Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.
Depressa, que o amor
não pode esperar!”
(por Carlos Drummond de Andrade)
Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade
Federico Garcia Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, em 05 de junho de 1898, e faleceu nos arredores de Granada no dia 19 de agosto de 1936, assassinado pelos "Nacionalistas". Nessa ocasião o general Franco dava início à guerra civil espanhola. Apesar de nunca ter sido comunista - apenas um socialista convicto que havia tomado posição a favor da República - Lorca, então com 38 anos, foi preso por um deputado católico direitista que justificou sua prisão sob a alegação de que ele era "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver." Avesso à violência, o poeta, como homossexual que era, sabia muito bem o quanto era doloroso sentir-se ameaçado e perseguido. Nessa época, suas peças teatrais "A casa de Bernarda Alba", "Yerma", "Bodas de sangue", "Dona Rosita, a solteira" e outras, eram encenadas com sucesso. Sua execução, com um tiro na nuca, teve repercussão mundial.
Ode ao Caldo de Congro
“No mar/ tormentoso/ do Chile/ vive o rosado congro,/ gigante enguia/ de nevada carne./ E nas panelas/ chilenas,/ na costa,/ nasceu o caldo/ grávido e suculento,/ proveitoso./ [...] Enquanto/ se cozem/ com o vapor/ os régios/ camarões marinhos/ e quando já chegaram/ a seu ponto,/ quando coalhou o sabor/ em um caldo/ formado pelo suco/ do oceano/ e pela água clara/ que desprendeu a luz da cebola,/ então/ que entre o congro/ e se mergulhe na glória,/ que na panela/ se azeite,/ se contraia e se impregne./ Já só é necessário/ deixar no manjar/ cair o creme/ como uma rosa espessa,/ e ao fogo/ lentamente/ entregar o tesouro/ até que no caldo/ se esquentem/ as essências do Chile,/ e à mesa/ cheguem recém-casados/ os sabores/ do mar e da terra/ para que nesse prato/ conheças o céu.”
(Pablo Neruda)
O Poeta e o Serpenteio ( Rafita)
Assim como eu
sempre me pensei
como um poeta carpinteiro,
penso que Rafita é um
poeta da carpintaria.
Escrevi, com giz, os nomes
de meus amigos mortos, sobre
as vigas e ele foi cortando
minha caligrafia na
madeira com tanta velocidade,
como se estivera voando
atrás da minha escrita,
outra vez os nomes com
a ponta de uma asa.
(Pablo Neruda)
Nenhum comentário:
Postar um comentário