segunda-feira, 19 de setembro de 2011

SUS FUNCIONA MUITO BEM NO INTERIOR DO CEARA

Barbalha – CE: Hospital São Vicente: há 42 anos salvando vidas

 HMSVP, Cícero Valério/Normando Sóracles



Hoje 1º de maio, dia do trabalho, o Hospital-Maternidade São Vicente de Paulo, de Barbalha, está completando 40 anos de fecunda existência, sob o zelo das irmãs beneditinas missionárias.
1º de maio de 1970
1º de maio de 2011.
42 anos de portas abertas, fazendo o bem sem olhar a quem. Fundado pelo médico Dr. Lyrio Callou, no já distante ano de 1943, foi concluído pelo padre Euzébio Oliveira Lima com dinheiro da Misereor, entidade católica da Alemanha para ajudar países subdesenvolvidos, sobretudo no setor de saúde.
Padre Eusébio de Oliveira Lima, hoje Monsenhor Eusébio, residindo em Barba lha, aposentado, era então pároco de Barbalha, da Ordem do Divino Salvador. Hoje, o Hospital-Maternidade São Vicente de Paulo, tem 14.248 metros quadrados de área construída, 228 leitos, 157 médicos no seu Corpo Clínico, 567 funcionários, sendo referenciados para atendimentos por 45 cidades de cinco Micro-Regiões de Saúde e recebendo clientes de mais de 60 cidades por demanda espontânea.
É a única oncologia da metade Sul do Ceará.
No ano de 2009 fez uma média de 32.932 atendimentos por mês, sendo uma referência regional de saúde hospitalar, a ponto de haver atraído para Barbalha a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
O seu entorno, em Barbalha, é região cosmopolita pela afluência de pessoas de todo o Nordeste.
Recentemente, em uma semana, foram contadas 15 ambulâncias de diferentes cidades do Nordeste.
Salve Hospital-Maternidade São Vicente de Paulo, de Barbalha, quarentão, mitigando a dor, ajudando a nascer bem, aliviando sofrimentos, salvando vidas, sublimando a dignidade humana. Ontem, sob o comando da irmã Edeltraut Lerch, hoje comandado pela irmã Rosamaria de Lira desde 2005.

"ORA ET LABORA"
COMO UM FREIRA ALEMÃ CONSTRUIU UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE NO INTERIOR DO CEARÁ
Maria Tereza Gomes

Irmã Edeltraut Lerch
"O calor nordestino era sufocante para sua pele alvíssima, mas ela dirigia assim mesmo a Rural, vidros abaixados, pelas cidades do Vale do Cariri em busca de doações e médicos interessados em dar consulta, aplicar anestesia, operar. Muitas vezes sozinha percorreu os 550 quilômetros de Barbalha, sua base de fé e trabalho, até Fortaleza, a capital do Ceará, para mais uma audiência com mais um secretário de Saúde para mais uma rodada com o pires na mão. Por iniciativa própria, aprendeu a trocar pneu, mexer no carburador, consertar a rebimboca da parafuseta. Até hoje, aos 78 anos, irmã Edeltraut gosta de dirigir e dá risada quando o povo conta que ela levantava poeira pelas rodovias maltratadas do interior cearense. Certa vez, em direção a Recife, o policial rodoviário a flagrou acima da velocidade. “Irmã, aqui só pode 80”, diz o guarda. Ela retruca: “Com 80 eu custo muito a chegar, e tenho muita coisa para resolver”.

Nem o sol escaldante nem as estradas impediram que essa irmã ligada ao Priorado do Nordeste da congregação das Beneditinas Missionárias de Tutzing, da Bavária alemã, construísse sua obra numa cidade sobre a qual jamais ouvira falar num país para onde havia sido enviada, sem consulta prévia, 15 anos antes. Um cronista local, Napoleão Tavares Neves, relatou assim a inauguração do Hospital Maternidade São Vicente de Paulo ocorrida no dia 1º de maio de 1970: “Após a santa missa inaugural as portas foram abertas à visitação pública. O espanto foi geral: era grande demais, luxuoso para cidade de gente tão pobre. Não tem como manter-se aberto, diziam todos”.

Inauguração do auditório:
irmã Edeltraut e o secretário de
saúde do Ceará, Dr. João Ananias
Não era falta de fé a incredulidade do povo daquela cidade pobre que vivia à sombra de Juazeiro do Norte, o berço do poderoso Padre Cícero, distante apenas 10 quilômetros. É que poucos conheciam a terceira dos sete filhos do casal Gisela e Wenzel Lerch, nascida em 5 de dezembro de 1929 num pedaço alemão que naquele período pré-Segunda Grande Guerra ainda pertencia à República da Checoslováquia. Nada sabiam sobre a família de pequenos fazendeiros que perdeu, de uma só vez, sua nacionalidade, sua terra e a possibilidade de ter batata e pão à mesa. Nada sabiam sobre a jovem que, num trem apinhado de desabrigados, deixou para trás a adolescência, passou fome, virou empregada doméstica, e se descobriu adulta, aos 20 anos, em Frankfurt, quando diz ter sentido o chamado para a vida religiosa.
 
Da esquerda para a direita:
Irmgard, irmã Edeltraut e Ilse
Lerch. Irmãs de sangue.
Os pais foram contra, mas em 1950 ela virou noviça. Como as beneditinas são uma ordem pobre, de freiras trabalhadoras, ela escolheu estudar enfermagem. Em outubro de 1955, foi enviada para o Priorado de Olinda, no litoral de Pernambuco. Nada sabia de português, mas ensinou puericultura e higiene no curso de pedagogia, ajudou a formar novas freiras e era também enfermeira da Casa Mãe. Em 1969, nomeada superiora e diretora da nova Fundação do Hospital-Maternidade São Vicente de Paulo, foi de ônibus para Barbalha, onde está até hoje.

Quando desceu da condução, pediu informações a um menino que fazia bicos por ali, carregando compras dos freqüentadores da feira de rua - como a maioria das crianças dali, aquele trabalhava desde sempre. Era Antonio Ernani de Freitas aos 8 anos, seu futuro braço direito, quase filho pelas próximas décadas. O hospital para onde ele a levou era um conjunto de paredes. Sem equipamentos, sem camas, sem viva alma. Ao inaugurá-lo, um ano depois, tinha maternidade, pediatria, clínica médica e isolamento. Antes do São Vicente de Paulo, os barbalhenses levavam seus doentes para Crato distante 24 quilômetros, ainda hoje maior e mais desenvolvida.

 Jantar com empresários da GE em São Paulo
Quem quiser pode ir verificar o São Vicente de Paulo atual: atende a 45 municípios da região com seus 216 leitos; tem pronto-socorro, UTI (inclusive neo-natal) e clínicas médica, cirúrgica, pediátrica, obstétrica e unidade de médio risco. Em meados de 2004, atendeu a média de 40 mil pessoas por mês. Só na fisioterapia foram quase três mil atendimentos. E ainda tem a Unidade de Oncologia, a única fora de Fortaleza, inaugurada com banda (a irmã adora banda!) e políticos. José Serra, então ministro da Saúde, foi. Somadas, quimioterapia e radioterapia fazem mais de três mil sessões mensais. 
 
Da esquerda para a direita: irmã Edeltraut,
Dr. Aramicy Pinto, presidente da associação
dos hospitais do Ceará;
Dr. Rommel Feijó, deputado federal na íntrega
da comenda Manoel Carlos de Gouveia
"Essa entidade filantrópica, de assistência social no ramo de saúde e sem fins lucrativos - as irmãs têm voto de pobreza, e todo o lucro é revertido para o hospital -, é um centro de referência de saúde no interior do Nordeste brasileiro. Para construí-lo, a irmã Edeltraut ora e trabalha incansavelmente, como ensinou São Bento, o pai dos monges, nascido em 480.

Até ser aposentada compulsoriamente aos 75 anos - uma regra na maioria das congregações -, a irmã acordava todos os dias às 3h da madrugada. Depois de orar e meditar, visitava os pacientes. Por volta das 5h, voltava à capela para as orações rituais com as outras irmãs. Só então, tomava o café. O dia seguia com mais uma ronda pelo hospital, burocracias do cargo e reuniões com os assessores diretos, mas só quando havia necessidade. Ernani e Antonina Luna Ribeiro (esta, colaboradora por quase 33 anos), dizem que ela nunca tomava decisões antes de ouvi-los, mas não se esquivava da última palavra, nem mesmo das mais difíceis. Em meados da década de 80, com os recursos oficiais à míngua, precisou demitir metade dos funcionários. Falou e chorou - com cada um deles. Quando o dinheiro voltou a pingar, muitos foram recontratados. Atualmente, 500 médicos, enfermeiros e funcionários trabalham com carteira assinada para o São Vicente de Paulo.

 
Da esquerda para a direita: senhora Alexandra; embaixador da
alemanha no brasil; Sr. Antonio Ernani de Freitas e irmã Edeltraut
Lerch, por ocasião da visita do embaixador à Barbalha e mais
especialmente à irmã Edeltraut.

Em Barbalha, ninguém se lembra da irmã sem trabalhar. Se ela não tinha nada para fazer, limpava paredes e o chão. Vivia com um pano na mão. O povo dali gosta de contar como corria para cima e para baixo em busca de dinheiro para manter e ampliar sua obra. Também falam da vez, com o hospital ainda fechado, em que ela percorreu 30 cidades alemãs falando nos púlpitos das igrejas sobre uma cidade carente no interior do Brasil que precisava de um hospital. Além de doações em dinheiro, conseguiu o primeiro raio X. Em outra ocasião, ao ler na revista Exame sobre o então poderoso CEO da General Electric, Jack Welch, mandou uma carta para ele lá nos Estados Unidos. Solicitava ajuda para comprar (quem sabe, ganhar!) um desses equipamentos caríssimos que a multinacional americana fabrica. A doação não veio, mas o desconto viabilizado pela filial brasileira ajudou na compra.

É assim que o Cariri, região conhecida como a terra dos verdes canaviais embora no meio do deserto, é abençoada com chuvas constantes aprendeu a amar a irmãzinha, como a chama o político Tasso Jereissati, cuja carteira de identidade é de estrangeira permanente, que no estado civil é religiosa e que, perguntada se sente orgulho do que realizou, responde: “Orgulho? Isso não, o que me encanta mais é a humildade. O que me deixa feliz é o senso de missão cumprida”.




O livro "Um Pouco de Perfume" foi editado, revisado e coordenado pelo escritor e advogado Emerson Monteiro
Barbalha A história que conta a trajetória da irmã da ordem beneditina, Edeltraut Lerch, que veio da Alemanha para o Brasil, será lançada no livro "Um Pouco de Perfume", no próximo dia 16, às 19h30, no auditório do Hospital São Vicente de Paulo, em Barbalha. Trata-se de um olhar humanizado nos serviços de saúde, que rendeu para o município o desenvolvimento de uma vocação, hoje referência no Estado com equipamentos de saúde e um curso de Medicina. Essa visão se atribui em muitos aspectos ao olhar da irmã Edeltraut, que acaba de fazer 80 anos.

A publicação foi editada, revisada e coordenada pelo escritor e advogado Emerson Monteiro, com apresentação do também escritor, Armando Lopes Rafael. O trabalho está sendo publicado pela Realce Editora e Indústria Gráfica, de Fortaleza, com 242 páginas. O livro traz um resgate de alguns escritos da irmã Edeltraut Lerch, nas áreas da Administração Hospitalar e Religiosidade, e recebeu apoio cultural dos empresários Raimundo Tadeu e Luiziane Alencar, amigos da irmã e admiradores do seu trabalho e trajetória de vida.

O livro conta com depoimentos do médico e historiador, Napoleão Tavares Neves, também ex-diretor clínico do Hospital administrado pela irmã. Ele lembra do momento em que a freira beneditina chegou em Barbalha, período em que o hospital estava sendo construído. Ela, enfermeira especializada em Educação, que veio para dirigir o hospital. "Ainda muito jovem, ia tomando conhecimento da cidade e da obra em fase de acabamento", diz ele. Hoje o hospital é referência, junto com o Centro de Oncologia, para mais de 40 cidades incluindo os estados circunvizinhos.

O médico em seu artigo publicado no livro, faz um resgate do momento que Barbalha recebeu o Hospital São Vicente. Nesse período fazia a parte de ambulatório na unidade. Recorda do momento inicial, em que foi preciso ampliar o atendimento por parte do credenciamento no serviço público, beneficiando um maior número de pessoas carentes na cidade. Para isso, se valeu de uma luta, de um trabalho árduo e até buscou apoio financeiro junto aos seus compatriotas na Alemanha. Momentos em que o hospital atravessava crises fez uma peregrinação por ministérios, em busca de apoio para o desenvolvimento das atividades no hospital.

Para Armando Rafael, irmã Edeltraut é uma pessoa cuja vida parece pertencer aos outros, pelo seu nível de dedicação, em quase todo o tempo dedicado ao outro. Os momentos de sofrimento diante dos horrores da Segunda Guerra são citados na autobiografia da irmã vividos pelos Lerch, na Alemanha. O escritor Armando Rafael, ressalta esse momento na apresentação do livro, quando cita uma adolescência não vivida pela religiosa beneditina. Chegou a trabalhar como empregada doméstica e, aos 20 anos, atendeu ao chamado da vida religiosa. "Estava escrito no destino da irmã que Barbalha seria o palco de suas maiores lutas e desafios", diz Armando. A cidade também foi lugar de muitas conquistas pessoais e sociais para cidade.

Num momento autobiográfico, nas páginas iniciais do livro, a irmã Edeltraut fala dos seus primeiros momentos de vida, sua formação familiar na Europa. "Minha mãe desejava que eu, após concluir a formação básica, aprendesse a profissão de costureira", lembra. Em seguida, fala da fase final da Segunda Guerra Mundial, em que os soldados russos e poloneses passavam saqueando a vila onde morava. Escapou, com a irmã e uma moça refugiada do Leste da Polônia, da sanha criminosa do que era normal para esses soldados, de estuprar as mulheres. Fugiram para o meio da floresta e num momento em que a ameaça se aproximava, um Pai Nosso e a respiração contida serviram de defesa.

A empresária Luiziane Alencar afirma que falar da religiosa é destacar alguém especial. "Quem a conhece sabe da sua importância para a saúde de Barbalha", destaca.

A irmã Edeltraut faz uma abordagem da sua experiência em administração hospitalar, onde estão inseridos os princípios básicos da humanização, a importância da humanização em análise, as relações interpessoais e a sua importância para o crescimento. Quanto ao papel da enfermeira, um destaque relacionado a pessoa de confiança do doente, este, acima de tudo, diz ela, uma pessoa, mesmo quando suas condições físicas e psíquicas parecem negá-lo.

Cartas, documentos, mensagens, discursos, matérias publicadas em jornais do Estado e da região, são abordados de forma minuciosa. O livro é um documentário de vida que homenageia uma mulher com uma trajetória brilhante e exemplar. É um exemplo de fé e de amor ao próximo. "Um Pouco de Perfume" tem muito a ensinar.

"UM POUCO DE PERFUME"
Descoberta de uma personalidade rara
Segundo o autor do livro, Emerson Monteiro, a vida da irmã Edeltraut foi exemplo dos ensinamentos de Cristo
Barbalha O escritor e advogado Emerson Monteiro fala da descoberta de uma personalidade rara, que é a freira alemã, Edeltraut Lerch. É assim que ele sintetiza, após examinar o material destinado a organizar o livro "Um Pouco de Perfume". "À medida que examinava o material destinado a organizar este livro, para minha satisfação, conhecia de perto uma vida inteira de trabalho de personalidade rara, que encanta pelo testemunho e dedicação missionária ao bem-estar do semelhante, bem aos moldes do que Jesus de Nazaré ensinou à humanidade", diz o escritor.

O próprio testemunho de trabalho dedicado pela irmã ao Hospital São Vicente de Paulo, segundo Emerson, já falam por si só de uma riqueza exemplar, traduzida por meio de suas palavras. No local, diz ele, promoveu uma verdadeira revolução nos costumes administrativos e dotou a instituição dos meios de crescimento e sustentação, que hoje serve de modelo a outros centros no Nordeste inteiro.

Conteúdo espiritual

O escritor e advogado ressalta que, ao lado disso, soma-se o conteúdo espiritual de sua experiência de beneditina, que ela transmite em textos deliciosos, próprios de quem ama com sinceridade o que faz, a lhe servir de ponte para o eterno.

A religiosa traz a experiência de uma vida, mas quatro décadas foram dedicadas ao município de Barbalha, a boa causa da saúde regional, que vem sendo apresentada a um público mais amplo e de forma detalhada. Emerson Monteiro, ex-funcionário do Banco do Brasil, advogado, fotógrafo e escritor, coordenou o trabalho não só de um testemunho de vida, com as respectivas considerações por parte de participantes do trabalho, mas conseguiu resgatar, também, por meio de sua sensibilidade, um material singelo. Uma bela fotografia e a alegria do rosa, que fazem um casamento perfeito com o conteúdo que preenche esse belo presente para os caririenses.

Trabalhos
Emerson realizou exposições de fotografia, desenho, pintura e colagem, e os filmes super-8 "São Gonçalo da Canabrava" (1975 - Salvador, Bahia) e "Terra ardente" (1977, inacabado - Crato). Pesquisador de Literatura, Psicologia e Religião, já publicou os trabalhos "Sombra e Luz" (1991/2008), "Noites de lua cheia" (crônicas - 1996), "Cinema de janela" (crônicas e contos - 2002) e "É domingo" (crônicas e contos - 2006).

Ele se interessa pela literatura de aperfeiçoamento humano, estuda religiões comparadas e suas implicações na sociedade e admite real mudança na história a partir de uma nova consciência individual, na tão sonhada transformação do gênero humano.

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