sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

10 Vilãs memoráveis ANOS 80




10) FEDORA ABDALLA (Cristina Pereira), de “Sassaricando” (1987)


Impossível ouvir “Fata Morgana” sem se lembrar da pérfida e sensual Fedora Abdalla, genial composição da ótima Cristina Pereira, que bem que merece voltar aos grandes papéis dos anos 80. Fedora era engraçadíssima: uma perua apaixonada pelo bandido trapalhão Leozinho (Diogo Vilela) e que infernizou o quanto pode a vida do pai, interpretado por Paulo Autran. Fedora fazia e desfazia e não hesitava em expulsar as pessoas de sua casa com o famoso bordão carregado nos “erres”: rá, ré, ri, ró, rua. Mesmo com tanta vilania, Fefê mereceu um final feliz nas areias do deserto ao lado de seu amado Leozinho. Sem dúvida, uma personagem deliciosa.

9) FERNANDA (Christiane Torloni), de “Selva de Pedra” (1986)


La Torloni não tinha uma missão fácil pela frente: dar vida a uma vilã que fora eternizada pela excelente Dina Sfat nos anos 70. Mas a atriz não só deu conta do recado como é considerada por muitos como o principal destaque do remake da célebre novela de Janete Clair. Dois momentos marcantes foram quando ela se casou vestida de preto, chocando a todos e nas sequências em que sequestrou a mocinha Simone (Fernanda Torres) e fez misérias com ela no cativeiro. Fernanda é daquelas vilãs bem malvadas, com aquele quê de loucura, mas extremamente charmosas, bem ao estilo de Torloni. Um momento off-villania, mas também bastante lembrado é o seu sensual banho de piscina com a personagem de Beth Goulart ao som de “Perigo”, de Zizi Possi: uma leve insinuação gay que não foi pra frente na novela, mas que ficou na memória geral.

8) RENATA DUMONT (Tereza Rachel), de “Louco Amor” (1983)


Em minhas remotas lembranças dessa novela, confesso que morria de medo de Renata. Sempre ouvia comentários na sala de casa sobre o quanto ela era má e naquela época ainda não distinguia atriz de personagem. Resultado: cresci com medinho da Tereza Rachel. Recentemente, pude conferir alguns capítulos e comprovar que a impressão que tinha era inteiramente verdadeira. Já no primeiro capítulo, a chique embaixatriz fez de tudo para separar a enteada Patricia (Bruna Lombardi) do filho da empregada Luis Carlos (Fabio Jr). A sequência em que ela é desmascarada por Isolda (Nicete Bruno) em plena festa é memorável: Renata, na verdade, chamava-se Agetilde e fora a responsável pela morte do patriarca da família Dumont. E ironicamente era a verdadeira mãe de Luis Carlos, a quem tanto humilhou durante a novela. Um trabalho magistral de Tereza Rachel, uma das atrizes que mais brilhantemente interpreta vilãs.


 7) ANDRÉA (Natália do Vale), de “Cambalacho” (1986)


Perigosa! Até hoje o refrão da música do grupo “Syndicatto” remete a essa bela assassina. Muitos consideram o melhor papel de Natalia do Vale. De fato, a atriz esbanjou beleza, charme, talento e maldade pura, na pele da alpinista social que dá o golpe no milionário Antero (Mario Lago), tramando sua morte e se tornando rica. Apaixonada pelo cunhado Rogério (Claudio Marzo), marido de sua irmã Amanda (Susana Vieira), Andréa fez de tudo para separar o casal, além de infernizar a vida da protagonista Naná (Fernanda Montenegro), adorável cambalacheira, filha do empresário assassinado. Andréa não escapou de pagar pelo seus crimes na prisão, mas garantiu lugar no rol das preferidas do melão.

6) JULIANA (Marília Pêra), de “O primo Basílio” (1988)

 A personagem criada por Eça de Queiros já era meio caminho andado. A adaptação brilhante de Gilberto Braga completava o percurso de sucesso. Mas de nada adiantaria se não fosse interpretada por uma atriz menos do que genial. Marilia Pera agarrou a oportunidade e fez misérias na pele de ressentida e ambiciosa empregada de Luisa (Giulia Gam), que descobria a traição da patroa e fazia de sua vida um inferno. As cenas em que Juliana obriga Luisa a realizar os serviços domésticos em seu lugar foram o ponto alto da minissérie, assim como o momento da revelação de que ela era detentora das cartas que provavam a romance de Luisa, com o primo Basilio (Marcos Paulo). Juliana era detestável, mas também patética, digna de pena. Impossível não ler o romance e imaginar outro rosto, que não o de Marília, para a desafortunada personagem. Um deleite para ler, ver e rever sempre.

5) JOANA FLORES (Yara Amaral) de “Fera Radical” (1988)

Dois anos antes, Yara Amaral já tinha brilhado intensamente como a hipócrita Dona Celeste, da minissérie “Anos Dourados”, cabendo aqui uma menção honrosa à personagem. Apesar de ter feito da vida da filha Lurdinha (Malu Mader) um inferno, ao final, Dona Celeste se revelou mais uma vítima dos acontecimentos e dos códigos de conduta da sociedade da época do que uma vilã propriamente dita.
Em “Fera Radical”, ela também fez da vida de Malu Mader um inferno, sendo a grande responsável pelo assassinato dos pais da heroína Claudia, que voltava anos depois jurando vingança. Pouco tempo depois, Yara morreria em pleno réveillon na tragédia do Bateau Mouche, portanto, Joana Flores ficou como a lembrança mais forte que tive dela: uma atriz fantástica, cuja interpretação era cheia de nuances, perfeita nos pequenos gestos e nas pequenas expressões, mas também fantástica e explosiva nos momentos de fúria. O acerto de contas da “fera radical” com a megera é memorável e Yara nunca esteve menos que perfeita nessa novela. Saudades imensas!

4) CAROLINA (Lucélia Santos), de “Guerra dos Sexos” (1983)


Carolina era a candura em pessoa: uma flor de criatura. Doce, gentil, humilde, bonitinha, mas muito, muito ordinária. Uma verdadeira loba em pele de cordeiro, a vilã enganou os personagens da novela durante muito tempo e seduziu grande parte do elenco masculino, inclusive o adorável cafajeste Filipe, em ótima interpretação cômica de Tarcísio Meira. O mote da novela era a batalha entre os sexos, mas Carolina só era a favor dela mesma e aprontou poucas e boas com Charlô (Fernanda Montenegro), Roberta (Gloria Menezes) e grande parte do elenco feminino. Um desafio à altura de uma atriz cheia de recursos como Lucélia Santos.

3) RAINHA VALENTINE (Tereza Rachel), de “Que rei sou eu?” (1989)

 Antes de mais nada, uma das gargalhadas mais gostosas de toda a história da teledramaturgia. Mais um tipo terrível interpretado por Tereza Rachel. Valentine era superlativa, operística, insanamente cruel e engraçada. Com ares de Maria Antonieta, mas muito esperta, sempre levava vantagem em tudo. Seu ponto fraco era a paixonite pelo bobo da corte Corcoran (Stenio Garcia) e as cenas de romance entre os dois eram hilárias. Tereza Rachel, nessa memorável novela de Cassiano Gabus Mendes, foi da comédia ao drama, da leveza à intensidade com a mesma maestria. Seu melencólico e solitário final ao som de “How can I go on”, nas vozes de Freddie Mercury e Montserrah Caballé, é de arrepiar. A melancolia e a derrota da rainha destronada era latente apenas no olhar da atriz que aqui não foi menos que genial.


2) PERPÉTUA (Joana Fomm), de “Tieta” (1989)

Adorável urubu. Bem no íntimo, a eterna viúva do Major Cupertino é minha favorita. O que dizer dessa divertidíssima criação de Aguinaldo Silva em que sua intérprete Joana Fomm fez o que quis? Outra especialista em vilãs (aqui vai uma menção honrosa para Yolanda Pratini, de “Dancing Days”, que mesmo sendo dos 70’s vale a lembrança), Joana Fomm começou carregando mais para o lado do drama, do rancor, do ressentimento que sentia pela sua irmã Tieta (Betty Faria). Mas aos poucos, Perpétua foi ganhando ares mais divertidos, até virar uma vilã das mais caricatas e adoráveis de todos os tempos. A avarenta e maldosa Perpétua dava um show a cada aparição, seja se fingindo de boazinha para a irmã, seja humilhando as fiéis escudeiras Cinira e Amorzinho (Rosane Goffman e Lilia Cabral). Poucas vilãs foram tão longe quanto Perpétua, chegando ao ponto de empurrar o filho para os braços da própria irmã por dinheiro. Além disso, ela se fingia de santa e virtuosa, mas na verdade, a tribufú era libidinosa e bizarra ao guardar o órgão sexual do próprio marido em uma misteriosa caixa branca. Perto disso, o segredo do Gerson (Marcelo Antony) de “Passione” é brincadeira de criança, né? Por essas e outras, Perpétua até hoje é lembrada como uma das maiores vilãs de todos os tempos e com muita justiça. Inesquecível!

1) MARIA DE FÁTIMA (Glória Pires) e ODETE ROITMAN (Beatriz Segall), de “Vale Tudo” (1988)

 Empate técnico. Não deu pra decidir entre as duas que, afinal se revelaram durante a trama mais parecidas do que nunca. Odete (Beatriz Segall) até hoje é o símbolo de uma burguesia corrupta e inescrupulosa, que demonstra desprezo pelo Brasil, mas que construiu sua riqueza às custas da exploração do país. As verdades ditas por Odete são inquietantes e é impossível não se identificar com elas, pelo menos um pouquinho. Odete foi uma criação genial de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres, sobretudo, porque foi uma personagem extremamente humana. Todas as suas vilanias estavam longe de serem gratuitas e eram justificadas pela preocupação que tinha com os filhos. O calcanhar de Aquiles era o fraco que ela tinha por garotões. O resultado é uma personagem poderosa, implacável, mas extremamente deliciosa de se assistir. Seu assassinato, até hoje, foi o que mais mobilizou o país e, mais de 20 anos depois, volta a fazer sucesso na reprise do Viva. Mesmo que Beatriz Segall tenha feito outros ótimos personagens, Odete sempre será seu carro-chefe. Definitiva!

Enquanto isso, Maria de Fátima é o símbolo da determinação. Disposta a vencer na vida e se tornar rica, a moça não media consequências para realizar seus objetivos, como por exemplo, colocar a própria mãe na rua, destruir o romance dela, trair a amiga Solange e até vender o próprio filho. Tudo isso parece terrível, mas mesmo assim Fátima era extremamente humana. Suas vilanias nunca foram motivadas por vingança ou questões pessoais, mas puramente para alcançar seus objetivos. Em sua moral (ou falta dela), Fátima se preocupava com a mãe, sofria cada vez que cometia uma maldade contra ela e achava que poderia consertar depois. E o trabalho de Glória Pires foi magistral. Sem qualquer ranço de caricatura ou exagero, ela sabia compôr duas Fátimas diferentes: a boazinha diante de todos e a pragmática e ambiciosa em suas cenas com o amante César (Carlos Alberto Ricceli). Vai ser difícil surgir uma alpinista social mais interessante e tão perfeitamente construída como esta. Antológica. 

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