10) FEDORA ABDALLA (Cristina Pereira), de “Sassaricando” (1987)
Impossível
ouvir “Fata Morgana” sem se lembrar da pérfida e sensual Fedora
Abdalla, genial composição da ótima Cristina Pereira, que bem que merece
voltar aos grandes papéis dos anos 80. Fedora era engraçadíssima: uma
perua apaixonada pelo bandido trapalhão Leozinho (Diogo Vilela) e que
infernizou o quanto pode a vida do pai, interpretado por Paulo Autran.
Fedora fazia e desfazia e não hesitava em expulsar as pessoas de sua
casa com o famoso bordão carregado nos “erres”: rá, ré, ri, ró, rua.
Mesmo com tanta vilania, Fefê mereceu um final feliz nas areias do
deserto ao lado de seu amado Leozinho. Sem dúvida, uma personagem
deliciosa.
9) FERNANDA (Christiane Torloni), de “Selva de Pedra” (1986)
La
Torloni não tinha uma missão fácil pela frente: dar vida a uma vilã que
fora eternizada pela excelente Dina Sfat nos anos 70. Mas a atriz não
só deu conta do recado como é considerada por muitos como o principal
destaque do remake da célebre novela de Janete Clair. Dois momentos
marcantes foram quando ela se casou vestida de preto, chocando a todos e
nas sequências em que sequestrou a mocinha Simone (Fernanda Torres) e
fez misérias com ela no cativeiro. Fernanda é daquelas vilãs bem
malvadas, com aquele quê de loucura, mas extremamente charmosas, bem ao
estilo de Torloni. Um momento off-villania, mas também bastante lembrado
é o seu sensual banho de piscina com a personagem de Beth Goulart ao
som de “Perigo”, de Zizi Possi: uma leve insinuação gay que não foi pra
frente na novela, mas que ficou na memória geral.
8) RENATA DUMONT (Tereza Rachel), de “Louco Amor” (1983)
Em
minhas remotas lembranças dessa novela, confesso que morria de medo de
Renata. Sempre ouvia comentários na sala de casa sobre o quanto ela era
má e naquela época ainda não distinguia atriz de personagem. Resultado:
cresci com medinho da Tereza Rachel. Recentemente, pude conferir alguns
capítulos e comprovar que a impressão que tinha era inteiramente
verdadeira. Já no primeiro capítulo, a chique embaixatriz fez de tudo
para separar a enteada Patricia (Bruna Lombardi) do filho da empregada
Luis Carlos (Fabio Jr). A sequência em que ela é desmascarada por Isolda
(Nicete Bruno) em plena festa é memorável: Renata, na verdade,
chamava-se Agetilde e fora a responsável pela morte do patriarca da
família Dumont. E ironicamente era a verdadeira mãe de Luis Carlos, a
quem tanto humilhou durante a novela. Um trabalho magistral de Tereza
Rachel, uma das atrizes que mais brilhantemente interpreta vilãs.
7) ANDRÉA (Natália do Vale), de “Cambalacho” (1986)
Perigosa!
Até hoje o refrão da música do grupo “Syndicatto” remete a essa bela
assassina. Muitos consideram o melhor papel de Natalia do Vale. De fato,
a atriz esbanjou beleza, charme, talento e maldade pura, na pele da
alpinista social que dá o golpe no milionário Antero (Mario Lago),
tramando sua morte e se tornando rica. Apaixonada pelo cunhado Rogério
(Claudio Marzo), marido de sua irmã Amanda (Susana Vieira), Andréa fez
de tudo para separar o casal, além de infernizar a vida da protagonista
Naná (Fernanda Montenegro), adorável cambalacheira, filha do empresário
assassinado. Andréa não escapou de pagar pelo seus crimes na prisão, mas
garantiu lugar no rol das preferidas do melão.
6) JULIANA (Marília Pêra), de “O primo Basílio” (1988)
A
personagem criada por Eça de Queiros já era meio caminho andado. A
adaptação brilhante de Gilberto Braga completava o percurso de sucesso.
Mas de nada adiantaria se não fosse interpretada por uma atriz menos do
que genial. Marilia Pera agarrou a oportunidade e fez misérias na pele
de ressentida e ambiciosa empregada de Luisa (Giulia Gam), que descobria
a traição da patroa e fazia de sua vida um inferno. As cenas em que
Juliana obriga Luisa a realizar os serviços domésticos em seu lugar
foram o ponto alto da minissérie, assim como o momento da revelação de
que ela era detentora das cartas que provavam a romance de Luisa, com o
primo Basilio (Marcos Paulo). Juliana era detestável, mas também
patética, digna de pena. Impossível não ler o romance e imaginar outro
rosto, que não o de Marília, para a desafortunada personagem. Um deleite
para ler, ver e rever sempre.
5) JOANA FLORES (Yara Amaral) de “Fera Radical” (1988)
Dois anos antes, Yara Amaral já tinha brilhado intensamente como a hipócrita Dona Celeste, da minissérie “Anos Dourados”,
cabendo aqui uma menção honrosa à personagem. Apesar de ter feito da
vida da filha Lurdinha (Malu Mader) um inferno, ao final, Dona Celeste
se revelou mais uma vítima dos acontecimentos e dos códigos de conduta
da sociedade da época do que uma vilã propriamente dita.
Em
“Fera Radical”, ela também fez da vida de Malu Mader um inferno, sendo a
grande responsável pelo assassinato dos pais da heroína Claudia, que
voltava anos depois jurando vingança. Pouco tempo depois, Yara morreria
em pleno réveillon na tragédia do Bateau Mouche, portanto, Joana Flores
ficou como a lembrança mais forte que tive dela: uma atriz fantástica,
cuja interpretação era cheia de nuances, perfeita nos pequenos gestos e
nas pequenas expressões, mas também fantástica e explosiva nos momentos
de fúria. O acerto de contas da “fera radical” com a megera é memorável e
Yara nunca esteve menos que perfeita nessa novela. Saudades imensas!
4) CAROLINA (Lucélia Santos), de “Guerra dos Sexos” (1983)
Carolina
era a candura em pessoa: uma flor de criatura. Doce, gentil, humilde,
bonitinha, mas muito, muito ordinária. Uma verdadeira loba em pele de
cordeiro, a vilã enganou os personagens da novela durante muito tempo e
seduziu grande parte do elenco masculino, inclusive o adorável cafajeste
Filipe, em ótima interpretação cômica de Tarcísio Meira. O mote da
novela era a batalha entre os sexos, mas Carolina só era a favor dela
mesma e aprontou poucas e boas com Charlô (Fernanda Montenegro), Roberta
(Gloria Menezes) e grande parte do elenco feminino. Um desafio à altura
de uma atriz cheia de recursos como Lucélia Santos.
3) RAINHA VALENTINE (Tereza Rachel), de “Que rei sou eu?” (1989)
Antes
de mais nada, uma das gargalhadas mais gostosas de toda a história da
teledramaturgia. Mais um tipo terrível interpretado por Tereza Rachel.
Valentine era superlativa, operística, insanamente cruel e engraçada.
Com ares de Maria Antonieta, mas muito esperta, sempre levava vantagem
em tudo. Seu ponto fraco era a paixonite pelo bobo da corte Corcoran
(Stenio Garcia) e as cenas de romance entre os dois eram hilárias.
Tereza Rachel, nessa memorável novela de Cassiano Gabus Mendes, foi da
comédia ao drama, da leveza à intensidade com a mesma maestria. Seu
melencólico e solitário final ao som de “How can I go on”, nas vozes de
Freddie Mercury e Montserrah Caballé, é de arrepiar. A melancolia e a
derrota da rainha destronada era latente apenas no olhar da atriz que
aqui não foi menos que genial.
2) PERPÉTUA (Joana Fomm), de “Tieta” (1989)
Adorável
urubu. Bem no íntimo, a eterna viúva do Major Cupertino é minha
favorita. O que dizer dessa divertidíssima criação de Aguinaldo Silva em
que sua intérprete Joana Fomm fez o que quis? Outra especialista em
vilãs (aqui vai uma menção honrosa para Yolanda Pratini, de “Dancing
Days”, que mesmo sendo dos 70’s vale a lembrança), Joana Fomm começou
carregando mais para o lado do drama, do rancor, do ressentimento que
sentia pela sua irmã Tieta (Betty Faria). Mas aos poucos, Perpétua foi
ganhando ares mais divertidos, até virar uma vilã das mais caricatas e
adoráveis de todos os tempos. A avarenta e maldosa Perpétua dava um show
a cada aparição, seja se fingindo de boazinha para a irmã, seja
humilhando as fiéis escudeiras Cinira e Amorzinho (Rosane Goffman e
Lilia Cabral). Poucas vilãs foram tão longe quanto Perpétua, chegando ao
ponto de empurrar o filho para os braços da própria irmã por dinheiro.
Além disso, ela se fingia de santa e virtuosa, mas na verdade, a tribufú
era libidinosa e bizarra ao guardar o órgão sexual do próprio marido em
uma misteriosa caixa branca. Perto disso, o segredo do Gerson (Marcelo
Antony) de “Passione” é brincadeira de criança, né? Por essas e outras,
Perpétua até hoje é lembrada como uma das maiores vilãs de todos os
tempos e com muita justiça. Inesquecível!
1) MARIA DE FÁTIMA (Glória Pires) e ODETE ROITMAN (Beatriz Segall), de “Vale Tudo” (1988)
Empate
técnico. Não deu pra decidir entre as duas que, afinal se revelaram
durante a trama mais parecidas do que nunca. Odete (Beatriz Segall) até
hoje é o símbolo de uma burguesia corrupta e inescrupulosa, que
demonstra desprezo pelo Brasil, mas que construiu sua riqueza às custas
da exploração do país. As verdades ditas por Odete são inquietantes e é
impossível não se identificar com elas, pelo menos um pouquinho. Odete
foi uma criação genial de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor
Basséres, sobretudo, porque foi uma personagem extremamente humana.
Todas as suas vilanias estavam longe de serem gratuitas e eram
justificadas pela preocupação que tinha com os filhos. O calcanhar de
Aquiles era o fraco que ela tinha por garotões. O resultado é uma
personagem poderosa, implacável, mas extremamente deliciosa de se
assistir. Seu assassinato, até hoje, foi o que mais mobilizou o país e,
mais de 20 anos depois, volta a fazer sucesso na reprise do Viva. Mesmo
que Beatriz Segall tenha feito outros ótimos personagens, Odete sempre
será seu carro-chefe. Definitiva!
Enquanto
isso, Maria de Fátima é o símbolo da determinação. Disposta a vencer na
vida e se tornar rica, a moça não media consequências para realizar
seus objetivos, como por exemplo, colocar a própria mãe na rua, destruir
o romance dela, trair a amiga Solange e até vender o próprio filho.
Tudo isso parece terrível, mas mesmo assim Fátima era extremamente
humana. Suas vilanias nunca foram motivadas por vingança ou questões
pessoais, mas puramente para alcançar seus objetivos. Em sua moral (ou
falta dela), Fátima se preocupava com a mãe, sofria cada vez que cometia
uma maldade contra ela e achava que poderia consertar depois. E o
trabalho de Glória Pires foi magistral. Sem qualquer ranço de caricatura
ou exagero, ela sabia compôr duas Fátimas diferentes: a boazinha diante
de todos e a pragmática e ambiciosa em suas cenas com o amante César
(Carlos Alberto Ricceli). Vai ser difícil surgir uma alpinista social
mais interessante e tão perfeitamente construída como esta. Antológica.
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