quinta-feira, 8 de março de 2012

Ana Jacinta de São José, a mitológica Dona Beja

PINTURA FEITA DE DONA BEIJA NO AUGE DE SUA BELEZA 
Dona Beja, nasceu em Formiga, Minas Gerais, por volta de 1800, filha natural de Maria Bernarda dos Santos e de pai ignorado. Chegou ao então florescente julgado de São Domingos do Araxá ainda menina, acompanhando a mãe e o irmão Francisco Antônio Rodrigues, talvez à procura de melhores condições de vida, já em princípios deste século dezenove. Segundo alguns historiadores, ela tornou-se uma mulher bonita, de cabelos e olhos claros, que chamava a atenção dos homens do lugar, inclusive de certo “padre...”.
Filha de um cometa — assim eram chamados os caixeiros-viajantes — a menina Ana Jacintha de São José chegou a Araxá com os avós em 1805. À medida que se tornava moça, a beleza de Ana ia causando inveja nas outras mulheres. Durante toda a vida, Dona Beija, como ficou conhecida, irritou as mulheres e encantou os homens.
Ela tornou-se personagem histórica no Triângulo Mineiro. Suas peças podem ser vistas num museu em Araxá e sua história desperta a curiosidade na cidade de Estrela do Sul. O escritor Pedro Divino Rosa conta no livro “Dona Beija”, que a menina Ana nunca estudou mas “a falta das letras não diminuiu sua inteligência”.
Apaixonada pelo fazendeiro Manoel Fernando Sampaio, Ana Jacintha tornou-se sua noiva. O noivo lhe deu o apelido de “Beija” por compará-la à doçura e à beleza da flor “beijo”.
Em 1815, a bela jovem foi raptada pelo ouvidor do Rei, Joaquim Inácio Silveira da Motta, que ficou fascinado com sua beleza.
Por dois anos, Beija viveu como amante do ouvidor na Vila do Paracatu do Príncipe.
Ao retornar a Araxá, ela encontrou um ambiente hostil. A conservadora sociedade local não a via como vítima, mas como uma mulher sedutora de comportamento duvidoso.
Para o escritor Pedro Divino Rosa, a notícia da morte d único homem que Beija realmente amara, transformou sua vida. “Beija caiu em prantos, vestiu-se de luto e trancou-se na casa. Por um ano só saiu à rua para ir à igreja. Ele tinha sido o único homem que a aceitou como ela era, que desafiou todos os costumes da época e assumiu publicamente o romance.”
A morte do amante levou Beija a fechar a Chácara Jatobá, onde recebia os homens e passou a viver na segunda casa, onde cuidava de suas duas filhas.
Roupas e sapatos de Beija podem ser vistos no Museu
O Museu Histórico de Araxá Dona Beija atrai turistas o ano inteiro em um casarão construído no início do século 19, seguindo as características arquitetônicas do período colonial mineiro. Ao longo do tempo, esse casarão serviu de residência no andar superior e, no andar térreo, para um estabelecimento comercial.
Foi criado por Assis Chateaubriand, em 1965, ano em que Araxá comemorou o seu centenário como cidade. Recebeu esse nome em homenagem ao personagem mitológico de Ana Jacintha de São José.
No início era um Museu de Arte e de História. Hoje retrata a história de Araxá, incluindo referências sobre os índios araxás, os colonizadores, os tropeiros e criadores de gado, a descoberta das águas, o universo doméstico e produtivo no século 19, o turismo e Dona Beija.
O acervo é formado por objetos arqueológicos, utensílios domésticos, móveis do século 19, imagens sacras, telas de conhecidos artistas brasileiros e araxaenses, documentos históricos e figurinos. O museu dispõe de uma sala de exposição permanente, no andar térreo, batizada como “Lugar de Memória”. Neste espaço são lembrados vários cidadãos que fizeram a história da cidade por meio de referências pessoais e objetos que identificam suas atuações.
Tem ainda uma sala de multimeios, uma cafeteria e uma loja de produtos artesanais. O prédio do Museu é tombado como patrimônio histórico da cidade.
Garimpo em Estrela do Sul
Em meados de 1853, segundo Pedro Divino Rosa, um cortejo formado por carroças bem talhadas apareceu na subida do Córrego da Onça, povoado de Bagagem (hoje Estrela do Sul). “Uma mulher aparentando riqueza e muito bela comandava o comboio. Era Ana Jachinta de São José que chegava em terras bagageiras”.
DONA BEIJA POUCO ANTES DE SUA MORTE
Ela passou a morar numa casa grande com uma senzala nos fundos onde ficavam os escravos. “Dona Beija também chegou a tocar garimpo e ganhou muito dinheiro com os diamantes que encontrou”, disse o escritor.
Pouco antes de morrer, dona Beija deixou-se fotografar. Doente, se pôs de pé, apoiada numa cadeira. Em 20 de dezembro de 1873, ela foi enterrada sem caixão, envolta em tecidos de linha, conforme pedira em seu testamento.
Rapto levou o Triângulo a ser mineiro
Para o escritor Pedro Divino Rosa, o rapto da adolescente Ana Jacintha de São José acabou passando para a história como um dos motivos que levaram ao desmembramento do Sertão da Farinha Podre, hoje Triângulo Mineiro, da capitania de Goiás e a sua anexação ao território mineiro.
“O nome Farinha Podre foi batizado assim em referência aos sacos de farinha que os bandeirantes que desbravavam a região deixavam pendurados nos troncos das árvores”, disse o pesquisador. Segundo ele, quando voltavam ao lugar marcado o produto estava apodrecido.
Pedro Divino Rosa conta em seu livro “Dona Beija” que, em 1814, os moradores desta região fizeram um abaixo-assinado a Dom João VI pedindo que a região voltasse para Minas Gerais. Naquela ocasião, o ouvidor Joaquim Ignácio de Oliveira da Motta acabou apoiando os goianos contra o movimento do povo que queria ser mineiro. Seus opositores fizeram então um levantamento da vida do ouvidor e descobriram suas falcatruas, entre elas, a do rapto de uma menina virgem em Araxá.
“Por ter raptado a menor e mandado matar o avô de sua refém, o ouvidor foi denunciado ao governo de Goiás por seus inimigos políticos e corria o risco de perder o posto e ainda ser julgado por seus próprios adversários”, afirmou o escritor.
Segundo ele, para escapar do julgamento, Joaquim Ignácio decidiu apressar a aspiração do povo na região e, em 1816, por um alvará real assinado por Dom João VI, o território conhecido como Sertão da Farinha Podre voltava em definitivo para a capitania mineira.
DONA BEIJA JÁ IDOSA
DON“Também não houve julgamento”, disse Pedro Divino Rosa. “Um tempo depois Joaquim Ignácio voltaria impune à corte e ainda com o título de benemérito da região. Posteriormente, retornou a Portugal, onde morreu com mais de 80 anos.”
Em 15 de fevereiro de 1819, nascia sua primeira filha Teresa Tomásia de Jesus, batizada a 24 de fevereiro do mesmo ano, sendo padre batizante, o vigário Francisco José da Silva, tendo a menina como padrinhos o Quartel-mestre Jerônimo José da Silva e Dona Teresa Tomásia de Jesus Rosa Botelho, respectivamente, irmão e mãe do padre batizante.
CASA DE DONA BEIJA HOJE
ROUPAS DE DONA BEIJA, PODE SER VISTA EM SEU MUSEU
CASA DE DONA BEIJA
QUARTO E OBJETOS PESSOAIS DE DONA BEIJA
O parto da criança se deu na fazenda “Campo Aberto”, de propriedade do vigário Francisco, com assistência de Dona Teresa Tomásia Botelho, que emprestou seu nome a recém nascida. Dona Beja residia na época em um sobrado na Praça da Matriz, vizinha à do padre Francisco, o que poderia ensejar um possível relacionamento sacrílego entre os dois, o que veio a se confirmar anos depois, quando o padre Francisco José da Silva reconheceu em cartório, através de escritura de perfilhamento, Teresa Tomásia como sua filha legítima, datada de 16 de maio de 1831, bem como uma de suas herdeiras em testamento, após sua morte em 1845. Não se sabe quando começou o relacionamento de Dona Beja e o padre nem quanto tempo durou, mas tudo indica que eles contavam com a cumplicidade da família, corroborados pela mãe do padre, madrinha da neta, e que não incomodava o resto da família, já que Dona Beja foi madrinha de batismo de Antônio, filho de Thomé Francisco da Silva Botelho, parente de seu amante. Essas relações continuaram, e em 1833, ocorreu o casamento entre Teresa Tomásia e Joaquim Ribeiro da Silva Botelho, sobrinho do padre, portanto primos, reforçando ainda mais o vínculo de parentesco da moça com a família Botelho. Desse casal, nasceram os filhos Teodora Jacinta Fortunata, Joaquim, Francisco, Saturnino, José e Antônio. O relacionamento de Beja com a família continuou, inclusive no campo político, quando ela tomou partido dos Liberais na Revolução de 1842, ao lado dos Botelhos, adeptos dessa corrente partidária na região. Em1855, a neta mais velha de Dona Beja, Teodora Jacinta Fortunata se casa com seu tio paterno, o coronel Fortunato José da Silva Botelho, poderoso chefe político de Araxá, e em 1856, ela vem a falecer durante o trabalho de parto juntamente com a criança, que não chegou a nascer. Após esse trágico episódio, iria acontecer a ruptura, talvez definitiva, dos vínculos de Dona Beja com a família Botelho, em decorrência de uma demanda judicial, feita por ela contra o coronel Fortunato, reclamando o direito de herança da neta, com a argumentação de ser a principal herdeira em ordem ascendente da falecida, amparada na ausência de herdeiros diretos da neta, até porque os pais da moça já eram também falecidos. Ela obteve ganho de causa e esse episódio acabou por se tornar o mote para a criação “oficial” do mito de Dona Beja, em princípios do século vinte, no intuito de incrementar o turismo então nascente em Araxá, com as descobertas das águas termais do Barreiro, localizadas em terreno onde existiu a antiga chácara do Jatobá, de propriedade de Ana Jacinta de São José, doravante a “heroína”, ”a cortesã”, “a feiticeira” Dona Beja.
Pouco antes de morrer, dona Beija deixou-se fotografar. Doente, se pôs de pé, apoiada numa cadeira.
Em 20 de dezembro de 1873, diz a lenda que, ela faleceu com tuberculose devido a intoxicação com metais utilizados no garimpo. Ela foi enterrada em um caixão com adornos em zinco, cuja, suspeita-se ter sido encontrado em junho de 2011, durante escavações para construção de um chafariz, na cidade de Estrela do Sul, na praça da Igreja Matriz, onde havia o antigo cemitério da cidade.

12 comentários:

  1. Gostei muito.Berenice Alves da Silva

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  2. Na novela exibida na TV Manchete , Tereza Tomásia é filha de D Beja com Antônio e não com o Padre... pensei que a novela fosse fidedigna á história de D Beija; fiquei surpresa.Na reportagem acima é mencionado o enterro de D Beija em um caixão , porém há tb a informação de que ela foi enterrada em panos de linho. Esses detalhes deveriam ser melhor esclarecidos.

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    1. Mas na novela diz que foi o Avo quem deu o apelido, já a historia acima, diz que foi o noivo, é preciso ler o livro biografia dela pra buscar a verdade, e também consultar os autores da novela do extinto canal da manchete, pra saber se eles modificaram algo da história verdadeira de forma proposital ou não.

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  3. É, fica a dúvida como foi enterrada Dona Beija, linhos ou caixão.

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  4. Aquele quadro de pintura, com o vestido azul, era a Dona Beija mesmo, ou a Maitê Proença da época da novela?

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  5. A foto do Casarão nunca foi a casa de
    Dona Beja, foi um casarão doado por Assis cChatobriand, a casa realmente seria em outro lugar proximo a APAE e os móveis não são objetos pessoais dela, são doações de moroadores e da extinta rede Manchete para commpor o visual e o mobiliario da época alguns vestidos de detalhes ricos foram usados na novela.

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  6. uma prostituta nao faz falta a ninguem!!!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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